- MEUDIA
- 11 de set. de 2020
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Atualizado: 31 de ago. de 2020
Um missionário, uma vida, um exemplo.
por: Garo Aharonian
“ Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver.” Hebreus 13:7
Em 2013, relembramos os 100 anos do nascimento e assim como 20 anos da morte do nosso irmão que marcou profundamente nossas vidas.
Recordamos dele como instrumento dócil nas mãos de Deus, de sua entrega e dedicação para alcançar a muitos com o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, conforme II Coríntios 12:15 “Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas” “ Então ouvi uma voz do céu, dizendo: Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem de suas fadigas, pois suas obras os acompanham”. Com esse conclusivo texto das sagradas escrituras, em Apocalipse 14:13, demos início, em 1993, ao culto de ação de graças pela vida e obra deste que foi um grande instrumento nas mãos de Nosso Deus. Também citamos o Salmo 16:15 “ Preciosa é para o Senhor a morte dos seus Santos.” Cremos que estes dois textos somados ao de Tiago 2:18 “....e eu com as obras, te mostrarei a minha fé ” resumem, magistralmente, a vida e obra do nosso querido irmão. Sim, irmão, pois, na sua humildade e sabedoria, rejeitava qualquer outro título. Ele era simplesmente o "Bireder", o "Bireder do Rãsmet.” Não procurava, não aceitava nenhum título, nada que pudesse servir de barreira ou de empecilho para sua aproximação de tudo e de todos. Tinha dois grandes objetivos: evangelizar os armênios, todos quantos fossem possíveis, onde quer que estivessem, não importando sob qual rótulo ou armadura se escondessem, e alcançar o mundo. Para ele, já acostumado a tantas variáveis em sua vida, principalmente após sua saída do Egito e vinda para o Brasil, em 1957, provavelmente uma das difíceis escolhas de sua trajetória.
Foi para o irmão Garabed e sua família um período de grandes batalhas: falar um novo idio ma, estabelecer a casa, encaminhar os assuntos profissionais e principalmente, transformar o “Râsmet” em uma igreja. Para ele, o mundo não apresentava fronteiras, barreiras ou dificuldades. Simplesmente era um 10 Setembro 2013 Setembro 2013 Setembro 2013 campo, um campo que deveria ser cultivado, onde a maravilhosa semente da Salvação, por Jesus Cristo, deveria ser semeada em cada coração. E ele, Garabed Topalian, recebera do Senhor da seara a incumbência de mandar obreiros para esse campo. A estes o irmão Garabed “ Bireder ”, como rapidamente ficou conhecido, e sua família, juntaram-se, cativando-os e discipulando-os. Em pouco tempo, devido a seu carisma, conhecimento e dedicação, assumiu a liderança do “Rãsmet ”. Todavia, como era de seu feitio, nunca desprezou os jovens líderes que havia, encabeçando um trabalho conjunto, respeitando os mais idosos, porém, com os olhos fitos em novas gerações, as quais ele poderia formar e discipular de uma maneira mais bíblica e correta, doutrina ricamente já dentro dos princípios do “Ierrpairutiun”, que ele já conhecia e praticava desde o Egito.
Exímio pregador, com vasto conhecimento da Palavra, trazia estudos e mensagens com muito poder e autoridade. Entretanto, mais que e homem de púlpito, era grande visitador, alcançando a todos quer sãos ou doentes, nas casas, escritórios, oficinas ou hospitais, com palavras bíblicas de consolo e ânimo, sendo provavelmente esta a sua principal característica. Iniciou na igreja uma nova Escola Dominical, além do trabalho realizado com crianças armênias nos Centros Armênios de São Paulo e Presidente Altino. Foi também um dos pioneiros, no Brasil, no uso do esporte como forma de atrair crianças para o evangelho, com a fundação, em 1961, do Grêmio Juvenil Luz, onde alcanço um grande número de crianças; em 1962, iniciou a Mocidade Armênia Luz. Era mestre em motivar e envolver os re cém - convertidos na obra do Senhor, delegando responsabilidades, incentivando a participação em cursos bíblicos e contratando professores para o ensino de instrumentos musicais. Até hoje, a maior parte dos responsáveis pela obra, em São Paulo, são frutos de seu abençoado ministério.
Contudo, sua visão de grande homem de Deus não se restringia apenas a São Paulo. Movido por Deus, o mesmo Deus que o havia impedido de ser missionário na África, inicia, em 1962, com o missionário Alberto Darahjian e outros irmãos, a UMAS, União Missionária para América do Sul, objetivando evangelizar os índios e nativos em Ipixuna, no Amazonas. Sem abandonar o ministério da Igreja em São Paulo, começa, através de correspondências com seu amplo círculo de relacionamento, a levantar fundos para o sustento de nossos prim eiros missionários, motivando a igreja para colaborar com esse ministério. Seu compromisso com a obra missionária sempre foi tão grande, que abriu mão de todo o tipo de conforto ou de regalias, direcionando do que era seu, até do próprio alimento, para a obra da Missão. Usava roupas compradas de segunda mão para reverter mais algum dinheiro à Missão. Seus sapatos, que eram utilizados em longos percursos, tanto para economizar o dinheiro do ônibus, pois nunca teve um veículo próprio, como terapia para seu coração que já havia passado por grave cirurgia, tinham solas grossas, sendo só trocados após várias meias-solas e consertos, quando já não era mais possível recuperá-los. Dispensava todo o tipo de prazer pessoal e familiar para que aquele tempo e dinheiro fossem revertidos à obra missionária. Não que ele não soubesse, ou não quisesse se vestir ou comer bem, pelo contrário, possuía gosto refinado e uma cultura muito ampla. Falava alguns idiomas, era excelente calígrafo, mas o seu objetivo era “satisfazer Aquele que o arregimentou” e o vocacionou para a obra gloriosa de servi-lo por meio da obra missionária e em sua maneira consagrada, heroica , espartana e despojada de viver. Como tudo que é feito segundo a vontade de Deus, não buscando o proveito próprio, mas somente honra e glória ao nosso Senhor, a obra iniciada no Amazonas cresceu, alcançando outros estados do Brasil: Paraná, Mato Grosso, Goiás e Bahia . E cumprindo a profecia que estava no seu próprio nome, chegou até ao altiplano boliviano, com o trabalho em Vaculhane, La Paz; posteriormente, aos campos na Índia e Sri Lanka, Turquia e Armênia. Nosso querido Bireder, que pastoreou nossa igreja por 36 anos (de 1957 a 1993), gostava muito de ler, principalmente a Bíblia, exortando a todos, através de uma bala ou de um puxão de orelhas, às vezes, com um tapa carinhoso, pedindo que a lessem diariamente. Também apreciava livros que relatavam a vida dos heróis da fé, dos quais tirava suas variadas e apreciadas ilustrações, que serviam de exemplo para sua própria vida. Nós, os que não lemos tais livros, tivemos por Deus a oportunidade de ver, ouvir e conviver com um verdadeiro e atual herói da Fé, pela qual, pela visão e ministério que recebeu de Deus se consumiu, por meio de muitos jejuns e orações. Ele, nosso Bireder, gastou-se pelos caminhos estradas por onde andou, pelos rios sem ponte que atravessou, pelos insetos dos campos missionários que alimentou com seu escasso sangue,bebendo águas barrentas e sujas, pelos alimentos que preferiu repartir, sem falar das calúnias, das ofensas, das zombarias, do menosprezo, inclusive, de muitos irmãos, que ele calado suportou, mas principalmente pelos frutos que são incontáveis mas que veremos naquele dia, “pois as suas obras muitas, muitas, muitas obras o acompanham”. Rasmet: palavra em turco relacionada com servo. Casa dos servos. “ Bireder” : adaptação para o turco da palavra brother (irmão e m inglês)